Catarina Lorenzo ativista dos mares.

Catarina LorenzoAtivista dos mares

 

“Sou uma menina de 15 anos nascida no ano de 2007 e me chamo Catarina Lorenzo.

Eu nasci e cresci na cidade de Salvador, que é onde passo a maior parte do tempo, porém, Salvador não é meu único lar. Desde pequena eu cresci entre Salvador e o Sul da Bahia, no interior, perto da costa. Com isso, pude ter a experiência de viver na cidade mas também no campo, onde consegui ter ainda mais oportunidades de conviver na natureza e com os animais. 

Eu sou surfista, ativista e estudante. Amo passar tempo na natureza e fazer esportes ao ar livre. Sou apaixonada por cavalos e cachorros, adoro ler e tocar violão. Também gosto muito de ir para a praia, andar de bicicleta e mergulhar. Eu sou bem eclética com meus gostos musicais e com comida. Em geral, diria que sou uma menina muito extrovertida, dedicada, carinhosa e aberta para aprendizagens. 

Normalmente, no meu dia a dia acordo cedo e, quando posso, faço algum exercício físico antes de ir para a escola. Eu estudo em uma escola integral, então passo a manhã e metade da tarde no colégio. Quando saio da escola normalmente eu vou fazer os meus esportes, surfar ou jogar futebol. Após isso vou estudar, organizar minhas coisas, passar tempo com minha família, fazer a parte mais técnica do meu ativismo (gravar videos, responder e-mails, ações que podem ser feitas online). No fim de semana pratico o meu esporte predileto, o surf, e, normalmente, também faço as ações práticas de ativismo.

 

“SER ATIVISTA É VOCÊ VER ALGO QUE TE INTERESSA, PERCEBER QUE AQUILO PRECISA DE MUDANÇA E TER VONTADE DE ATUAR PELA MUDANÇA”

 

Como eu citei, sou uma ativista, mais especificamente ativista climática. Podemos ver que, por mais que eu seja uma atleta e uma ativista, eu ainda tenho uma vida normal. Baseado nisso, quero enfatizar a ideia de que “ser ativista” é algo normal. Ser ativista é você ver algo que te interessa, perceber que aquilo precisa de mudança e ter vontade de atuar pela mudança. Essa vontade de agir em prol da causa pode vir de diversas formas. Para mim foi algo que foi se desenvolvendo desde que eu sou pequenina, mas que sempre esteve lá. 

 

Eu tive a oportunidade de crescer com pais que me incentivaram a ficar na natureza, me ensinando sobre sua importância e como não somos nada sem ela. Meu pai é biólogo e surfista, e, lembro de quando peguei minha primeira onda aos 2 anos junto com ele. Desde então, estive constantemente no oceano, consequentemente, criando uma conexão com o mar e percebendo coisas estranhas ocorrendo nele; como o excesso de plástico, o esgoto, a perda da biodiversidade e as consequências das mudanças climáticas. Além disso, antes mesmo de eu ter nascido, minha família estava engajada em uma luta para a proteção de uma área de mata atlântica na cidade de Salvador, o Vale Encantado. Eu nasci nessa luta e participo dela até hoje. Estamos recentemente tentando criar o primeiro refúgio de vida silvestre de Salvador, que seria no Vale Encantado. Essa foi minha primeira luta ambiental, mas, além dela, também participei de protestos contra canalizações de rios, limpezas de praias, plantios de árvores e várias outras ações locais.

 

Por conta da minha convivência com a natureza criei uma conexão com ela e percebi várias coisas que não deveriam estar acontecendo. Uma delas foi uma das muitas consequências das mudanças climáticas que virou um momento muito marcante e se transformou em uma história que mudou minha vida. Em um verão, quando tinha 9 anos, estava nadando em uma piscina natural que meus avós nadam desde de criança, minha mãe também e, assim, sucessivamente. Essa piscina é feita de corais e, no seu centro, existem duas grandes formações. Nesse dia, quando cheguei perto dos corais, percebi que estava muito escassa a quantidade de peixes e algas, além de o coral estar cheio de manchas brancas, o que quer dizer que o coral está morto ou em processo de morrer. Porém, o que estava mais estranho era a temperatura da água. A água estava muito mais quente do que o normal, mesmo quando eu mergulhei e cheguei a tocar na areia do fundo a água continuou muito quente ao invés de esfriar, que é o que normalmente ocorre. Com isso, tive que sair da água pois não aguentei a alta temperatura e, logo que saí, fiquei questionando o que tinha acontecido e ficando muito preocupada com a vida marinha daquele local, pois sabia que aquilo não era normal.   

Descobri a causa do que tinha acontecido quando estava na escola cursando a matéria de ciências ambientais, e começamos a discutir sobre mudanças climáticas, aquecimento global, gases de efeito estufa e como os seres humanos estavam causando esses problemas. Minha professora falou que, por conta das mudanças climáticas, o planeta está aquecendo e nesse momento eu conectei o que tinha ocorrido ao que estávamos falando e entendi o que estava causando aquela anormalidade. Foi como uma lâmpada que acendeu em minha mente, eu sabia naquele momento que as mudanças climáticas estavam causando aquilo, e eu precisava fazer alguma coisa para ajudar esse problema, eu precisava agir! 

Com uma imensa vontade de atuar em prol da causa, uma das maiores oportunidades da minha vida surgiu. Eu tive a grande oportunidade de assinar uma petição na ONU no Comitê Do Direito Das Crianças, contra 5 países (França, Alemanha, Brasil, Argentina e Turquia) com mais 15 jovens. Essa oportunidade surgiu através de uma amiga que conheço desde pequena. Ela conhecia uma organização chamada Heirs To Our Oceans, que estavam procurando jovens engajados com a causa ambiental mas que também tivessem uma conexão com a natureza. Com isso, ela me apresentou ao grupo, e eu fiz várias reuniões online com eles contando minha história de como cresci, das ações que fazia localmente e das consequências das mudanças que vi e senti. Após ter contado tudo, eles me perguntaram se eu gostaria de contar essa história para o mundo e, claro, eu aceitei, e tive uma experiência que mudou a minha vida.


Ir para ONU foi uma experiência de muito aprendizado e inspiração. Poder ir à ONU, representar os jovens do Brasil e do mundo junto com outros jovens de diversos locais do planeta, foi simplesmente incrível. Eu não só tive a oportunidade de evoluir na minha oratória e conhecimento,  mas também como ser humano. Além disso, me inspirei muito com todos os jovens ao meu redor. Suas histórias simplesmente fizeram minha vontade de agir ficar ainda maior. Ouvindo suas histórias percebi que as barreiras que os humanos delimitaram não existiam para as mudanças climáticas, ela afeta a todos de diferentes maneiras e com diferentes consequências. Com isso, junto com eles, demandei aos líderes mundiais da ação climática e lembrei a eles que nós, jovens, iremos herdar o futuro e que nós é que teremos que pagar pelas consequências dos atos do presente.   

 

Após a ONU milhões de portas se abriram para mim. Entrei oficialmente como participante do grupo Heirs To Our Oceans, fui uma jovem embaixadora Eco Women 2020, discursei mais uma vez na ONU na abertura da Década Da Ciência Oceânica e virei jovem embaixadora das águas internacionais da ONU. Também, com a ajuda do curso do Eco Women, criei o meu próprio projeto de educação ambiental sobre sustentabilidade, o Eco Club Sustentare, além de fundar o grupo de mobilização jovem da década da ciência oceânica brasileira e, junto com quatro mulheres, criar um projeto chamado Unidas Pelo Clima. No meu dia a dia venho sempre tentando passar meu conhecimento para as pessoas, seja através de palavras ou ações. Participo de várias rodas de conversas e palestras, mas também sempre tento organizar ou participar de ações como limpezas de praias e plantios de árvores. Além disso, sempre estou engajada com ações que trazem a importância de políticas públicas e leis que protejam e defendam o meio ambiente e a sustentabilidade, pois, é importante termos as nossas ações como indivíduos, mas também precisamos da ação no plano coletivo para gerarmos uma mudança efetiva.    

Nessa minha jornada eu me deparei com alguns desafios, principalmente, por ser uma menina tão jovem. Especialmente no começo, por diversas vezes, por eu ter uma idade mais baixa, muitos não queriam me dar ouvidos, ou, às vezes ouviam mas não me levavam a sério. Ao longo dos anos aprendi a lidar bastante com isso e achei que as pessoas também ficaram mais abertas a me ouvir. O que ocorre comigo, às vezes, é a pressão de todos os problemas que estou lidando. As mudanças climáticas, os problemas ambientais, problemas educacionais e a lista só aumenta. Tudo isso são problemas muito complexos e acabo sentindo a pressão de tudo isso. Em momentos como esse tenho a grande oportunidade de ter meus pais e minha família para estarem lá me apoiando e me ajudando, mas também tenho a natureza. Eu gosto de, nesses momentos mais densos, de olhar para o belo daquilo que estou lutando. Olho a vida que a natureza tem, a biodiversidade que ainda temos para preservar, além de, também, quando posso, ir para a própria natureza para sentir sua energia que sempre me traz paz.

Finalmente, gostaria de finalizar trazendo a minha visão de um futuro. Eu sou sim uma pessoa otimista, mas também, realista. Reconheço todos os problemas, ou como gosto de chamar, desafios que estamos lidando nesse momento, porém, eu ainda tenho muita esperança. Eu vejo um futuro onde a sociedade consegue adaptar suas práticas destruidoras para práticas mais sustentáveis e menos nocivas, onde as leis serão em prol do meio ambiente, onde as áreas ambientais que temos estarão protegidas e as áreas destruídas estarão se regenerando. Vejo um futuro onde o ser humano reconhece que sua existência é conectada a natureza, que através da educação conseguiremos ter a conscientização, e assim, termos um futuro cheio de vida, que é o futuro que minha geração merece.  

 

Nós conseguiremos atingir isso tudo se compreendemos que nossas ações, nesse momento, serão o que irá decidir se chegaremos a esse futuro. É por isso, que eu não tenho somente esperança para o futuro, mas tenho esperança para o presente, pois é nele que iremos gerar a mudança que tanto queremos e tanto precisamos.”  

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